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terça-feira, 19 de abril de 2016

Relato de (des)esperança

Nasci no ano de 1984, um ano antes do 'fim da ditadura' no Brasil, não convivi de perto com os seus horrores e, até bem pouco tempo, o máximo de contato que tinha com o período foi por meio de leituras de livros de História. Eis que, em abril de 2014, faço minha inscrição no Sesc Dramaturgia - Leituras em Cena, cujo tema era "50 Anos da Ditadura Militar - Dramaturgia da Resistência". Eu acabava de iniciar as aulas de teatro e essa seria minha primeira apresentação, o texto era Nem Mesmo Todo o Oceano, de Alcione Araújo. Para além da emoção de estar 'no palco' pela primeira vez, o projeto mudou para sempre meu sentimento com relação ao período de trevas brasileiro.
Talvez todos já tenhamos conhecimento de que atores façam laboratórios para seus personagens, é o que atribui verdade à atuação, é o que convence quem assiste e é o que mexe, profundamente, com o ator. O desafio a que me propus era o de interpretar um médico que se tornou algoz em meio ao esgoto do sistema ditatorial vigente. Assisti a documentários, estudei, li bastante sobre o que se praticava em nome da manutenção da ordem no país.


A imersão me deixou absolutamente chocado. Não que já não tivesse ideia do que ocorria, mas se materializava para mim, naquele momento, toda a violência à qual os opositores do governo eram submetidos. Fiquei ainda mais estarrecido com os relatos das técnicas de tortura aplicadas às mulheres. A humilhação, a violação do corpo, o estupro como forma correcional me fizeram sucumbir à tristeza, à indignação, ao nojo. A mistura de sentimentos que me acometeram era diferente de tudo o que eu já havia vivenciado. Ainda hoje, ao lembrar desta experiência, falta a coordenação motora para continuar digitando, os dedos tremem, o nó na garganta é inevitável. Segue uma longa pausa, recobro a normalidade - ou pelo menos, parte dela - e posso voltar ao assunto.
Eu, que não vivi os horrores da ditadura, emociono-me, revolto-me. Eu, que não passei pelos porões dos DOPS, jamais teria a pretensão de mensurar o sentimento de quem de fato sentiu a tortura na pele ao presenciar uma homenagem ao mais abjeto torturador - se é possível hierarquizar abjeção, nesse caso -, coronel Brilhante Ustra, em plena Câmara dos Deputados, por um político boçal e fascista. Eu não vivi os horrores da ditadura, mas tenho empatia. Não é preciso viver os horrores da ditadura para ter conhecimento histórico e cultura, e conhecimento histórico e cultura mudam a forma de ver o mundo, mudam a forma de sentir o mundo, mudam a forma de se posicionar no mundo.
Cada argumento que leio em prol da ditadura militar, os posicionamentos radicais e violentos vociferados nas redes sociais, fazem com que eu perca um pouquinho de fé nesse país em que vivemos. Aí eu paro, reflito e percebo que o que me consola é que também há aqueles que defendem a justiça, que defendem a democracia, que defendem a liberdade, que, assim como eu, acham que a evolução - ainda que penosa para alguns - seja possível. O que me consola é saber que houve, há e sempre haverá essas pessoas. É só o que me consola, é só o que me faz não desistir de um país possível. Por enquanto.

terça-feira, 18 de agosto de 2015

A História de Um Dia Sem Fim

Sabe quando você passa o dia todo certo de que está doente? Umas sensações estranhas, inexplicáveis, diferentes. Um dia daqueles que você quer que termine e apenas termine, sem grandes desfechos. Pois é, hoje foi desses dias. Não é raro, no entanto, que não sejamos agraciados com a realização de nossos desejos. E o que parecia só um dia ruim, passou a ser um dos mais atípicos por que já passei.

Ainda no começo da noite sou surpreendido por uma voz que vem da rua gritando por socorro. Olho pela janela do apartamento, é uma mulher desesperada pois acaba de ser assaltada. Dá tempo de ver os ladrões correndo e passando pela porta do meu prédio. É assustador quando você se dá conta de que está totalmente desprotegido e sujeito a tantas coisas nas quais muitas vezes nem pensa. Mas elas são reais, esses riscos são palpáveis e quando você está sensibilizado - por isso falei do meu sentimento ao longo do dia - o medo se potencializa. A mulher é amparada pelos vizinhos da casa em frente, mas eu tremo e assim fico por vários minutos. Nervoso, meu coração palpita, pelo simples fato de que ainda não entendo a violência como algo normal. Demoro algum tempo para me restabelecer.   

Resolvo me distrair, parar de pensar. Ligo a TV. Vejo novelas, um pedaço do programa da Xuxa, jogo no Facebook. Consigo me descontrair um pouco e relaxar. Entretanto, dormir não está fácil, tampouco ficar totalmente acordado. Solução: Youtube. Sempre recorro aos clipes de músicas que gosto para aliviar um pouco a barra quando me sinto incomodado.

São 2h40min da madrugada. Eu com os fones de ouvido. Ouço um barulho. Tiro os fones. Barulho na porta da sala. Parece alguém querendo entrar, forçando a fechadura. A campainha toca. Outra vez. Mais um toque. Tomo coragem e resolvo checar o que acontece, de perto. Do lado de dentro pergunto quem é. O homem, de voz rouca e baixa, responde que é um amigo que entrou por engano e não consegue sair. Acho estranho. Ele pede que eu abra a porta para ajudá-lo. Nego. Ele insiste que não é louco e repete que não consegue sair. Oriento que ele deve chamar o elevador e descer. Ele parece nervoso, confuso e continua a pedir que eu abra a porta. Volto a afirmar, agora de forma mais ríspida, que não posso atendê-lo a essa hora da noite e torno a lhe dar a mesma orientação. Ele chama o elevador e parece descer. Permaneço na sala, próximo à porta, para conferir se não há mais barulho no corredor. Silêncio fúnebre.

O silêncio agora parece ecoar. Junto com ele os questionamentos germinam e não me deixam dormir. Será que fui rude? E se realmente era alguém precisando de ajuda? Devia eu ter aberto a porta? Até que ponto o medo da violência vai me assombrar a ponto de primeiro desconfiar de qualquer um, de qualquer história? 

Agora, pressuponho, não conseguirei dormir. Sabem, sou daqueles que não dormem quando pensam. E nesse momento, dentro da minha mente, imperam o fúnebre silêncio do corredor e o caos das histéricas perguntas sem resposta.

quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O Dia Em Que Me Trajei de Branco e Deixei Clarear

Não sou crítico de teatro, portanto não esperem ler aqui uma crítica especializada. Sou ator, em início de formação, tampouco avaliarei técnica interpretativa. O que deixarei neste breve texto serão impressões de um espectador. E, na condição de espectador, tentarei expor livremente sentimentos.

Vinha, há algum tempo, acompanhando o êxito do espetáculo Deixa Clarear, de Márcia Zanelatto, no Rio de Janeiro, e a vontade de conferir já tomava conta de mim. Fiquei radiante quando vi que seria apresentado no encerramento da programação de aniversário de 68 anos do SESC, no Teatro SESC Centro, em Goiânia.

Trajei-me de dois tons de branco, colar e pulseiras e fui ao teatro. Estava ansioso, fã incondicional que sou de Clara Nunes. Uma parada no caminho, duas cervejas para relaxar, uma boa conversa, e é chegada a grande hora. Entro no teatro já na expectativa, já nervoso, já sorrindo. Sim, eu estava feliz, parecia que tudo ia ser maravilhoso.

Começa a peça. Entra uma menina - novinha, pequenina, branquinha, loirinha - e começa a encenar uma Clara criança. Mas não só Clara criança a moça interpreta, ela faz do seu corpo e da sua voz a casa de vários personagens. A platéia ri, eu rio, e já começo a ser enredado pela atmosfera de Deixa Clarear.

A moça se apresenta, é Clara também, Clara Santhana, que de nome tão longo só faltou o 'Orleans e Bragança'. Encanto-me com sua versatilidade e prossigo em meu abrir de alma. Clara, de pequena, cresce e me mostra Clara Nunes.


O texto se desenha, e se poetiza, e se envolve de música, e se banha de brancos. Os mais belos e profundos sentimentos saem pelos poros e insistem em fazer eriçar até o último fio de cabelo. É involuntário. Já não há volta, Clara Nunes e seu sorriso estão diante dos meus olhos. Olhos esses que marejam e sorriem, e que querem a todo momento eternizar aquele instante. Intensidade, leveza, e a prova de que ambos podem coexistir, de que quando isso é possível a beleza transcende.

A dança de Clara, o sorriso de Clara, o sentimento de Clara, todas as cores que têm os brancos de Clara, a Claridade. As palavras somem, os pensamentos se esvaem, só consigo sentir. Sentimento bom, indescritível, inenarrável. Não estou mais em mim, mas sinto. Arrebatamento. Clara dá licença a Iansã, e Oyá vem linda, rápida, intensa e se apresenta a mim como o vento forte que leva e junto com a tempestade me lava as máculas. Calmaria. Águas, corredeiras, rios e mares correm seus caminhos e me ensinam que o importante é continuar. Sempre em frente.

Clara clareia e os dois tons de branco que eu vestia parecem ter absorvido todos os seus brancos, toda a sua luz. Deixa Clarear é mesmo um clarear de alma. É muito mais que uma peça musical, é uma sessão de tratamento do espírito.

Acaba a sessão e eu continuo sorrindo, não mais como antes. Leve. Intenso. Agora sorriem com meus lábios, minha alma e meus olhos. E hoje o que tenho a dizer a todos os envolvidos nesse projeto é 'apenas': Muito obrigado e Axé!

quarta-feira, 27 de março de 2013

O Bacanal Evangélico e o Nocaute aos Direitos Humanos no Brasil

Outro dia escrevi, no facebook, sobre a moderação, o meio-termo e a não radicalidade das opiniões, mas a cada dia que passa fico mais incomodado com o que ocorre à minha volta. De fato, eu havia me prometido que não entraria no mérito religioso e que não participaria dessa polêmica guerra civil ideológica que nossa sociedade está vivendo. Mas se vocês bem me conhecem, estavam só esperando para ver quanto tempo eu agüentaria, não é? Pois é, pouco.

Ocorre que a cada dia que passa eu vejo que estamos caminhando para uma sociedade extremamente intolerante e radical. As igrejas evangélicas, com seus controversos líderes infiltrados no seio da representação democrática, estão criando um exército disposto a tudo para defender os 'princípios cristãos'. Sob a pele de cordeiro da 'liberdade de expressão' está escondida a mais perversa e perigosa postura inquisidora. A já conhecida perversidade humana - aquela que nos faz vibrar e aplaudir quando um bandido é morto, ou quando ocorre uma chacina em um presídio - une-se a uma manipulação dogmático-religiosa e a um radicalismo altamente nocivos ao convívio social.

As propostas da bancada evangélica e sua postura só demonstram que ela não tem interesse absolutamente algum em promover justiça e paz social. Ora, um país em paz e com justiça social representaria um grande risco para a sua dominação. Os líderes evangélicos conduzem suas ovelhas e as adestram para serem obedientes e acríticas, e tem funcionado. Ora, o evangelho de Cristo eles jogam na lata do lixo. O evangelho do amor para eles não tem valor. A interpretação conveniente da bíblia é feita pelos pastores e aceita pelas ovelhas. Então, eles criam um novo evangelho, um evangelho que não é bem assim de Cristo. É uma doutrina torta, moldada, que serve a interesses escusos e vis. Uma doutrina que tem êxito ante as mentes mais reacionárias e cruéis. Está se formando um grande exército da intolerância, que tem demonstrado sua crueldade especialmente por meio das redes sociais. São militantes treinados para mentir, incitar o ódio, distorcer discursos e praticar todo tipo de mal que conseguirem, sob o pretexto de estarem em defesa da moral, da família e dos bons costumes. Pasmem! O exército cresce e ganha força. Arrisco-me até a dizer que seja uma nova corrente teológica: a teologia do ódio. Gente que xinga, difama, mente, agride e, quem sabe em breve, queima os pecadores na fogueira.

Tenho pavor do que está por vir, não parece nem um pouco esperançoso. A influência evangélica aumenta na política e a cada dia a democracia leva um soco na cara: como, por exemplo, um partido que se denomina cristão e participa de um conluio para colocar um líder religioso que discursa contra minorias na presidência de uma comissão que trata exatamente deste assunto, para tirar o foco de outras posturas ainda mais inadmissíveis; ou ainda, a proposta de entidades religiosas poderem questionar a constitucionalidade de leis junto ao STF. Querer suprimir a Constituição de um país por um livro religioso não tem nada de belo, nem é digno de aplausos. O Brasil retrocede rumo a uma triste e sombria teocracia.

A violência praticada pela supressão dos direitos à liberdade, em suas mais variadas formas, é digna de lágrimas. Lágrimas de sangue, de todos aqueles que sofreram, lutaram e se sacrificaram na expectativa de que nós vivêssemos numa sociedade mais digna, justa e tolerante. Os religiosos que conduzem o seu gado por esse caminho de intrigas e enganos banham-se no sangue inocente de todos aqueles que morrem em virtude dessas posturas. E, como porcos, chafurdam num lamaçal de corrupção, ganância e mentiras.

Estamos presenciando um momento histórico, uma nova cruzada, uma 'guerra santa', em território brasileiro. Acho que a história não conseguiu ensinar nada a ninguém. Ou melhor, acho que a história não conseguiu abrir os olhos da grande massa, dita povo. Ela continua ignara - estúpida mesmo - e com uma criticidade medíocre, se é que há alguma. A pergunta que fica é: será que ainda resta esperança?



quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Crise Internacional, A Marolinha e o Caos na Educação

Acabo de ler a matéria-capa da Isto É desta semana, Apocalipse Não - o que há de real na crise. Particularmente não gosto dessa publicação, Isto É, porque acho muito tendenciosa, muito petista. Se a Veja é imprensa marrom, a Isto É é imprensa alvi-rubra e nesse duelo de cores prefiro não escolher. Deixando de lado a minha antipatia pela revista, li sobre a crise e, além de achar que o título da matéria poderia ser facilmente trocado por "E teve boatos que a gente tava na pior", faço uma breve análise da abordagem.

Logo na capa da matéria, não da revista, temos duas fotos: uma de Obama com uma expressão preocupada e outra de Dilma com as sobrancelhas arqueadas e um meio sorriso nos lábios. Sabemos que os Estados Unidos estão passando por uma crise que ameaça o mundo todo e não se fala em outra coisa, nos últimos dias. A crise internacional é inevitável, segundo especialistas, mas o que me chamou a atenção foi o fato de todas as análises especializadas indicarem o preparo do Brasil para enfrentar a crise. Lembrei-me do famigerado ex-presidente Lula e sua analogia dos efeitos da crise internacional de 2008, por ele comparada à uma tsunami, à uma marolinha para o Brasil.

Ora, evidentemente não torcemos para que o Brasil sofra como Grécia, Portugal, e outros países europeus com essa crise. Ficamos exultantes, inclusive, que o país esteja tão preparado para enfrentar a crise. O Brasil demonstra força para enfrentar a crise quando aparece como o quarto maior credor dos Estados Unidos. As empresas brasileiras, segundo a publicação, têm um aumento do lucro líquido de 40,5% e no lucro operacional de 28,2%, em comparação ao mesmo período do ano passado; a indústria está a todo vapor, com crescimento de 23,1% na área de material de transporte, 20,8% na de instrumentos médicos, 9,5% na de aeronáutica, e outros números que indicam crescimento igualmente animadores, se comparados ainda ao mesmo período do ano passado; as contratações estão em alta: foram gerados, entre janeiro e junho, 1,4 milhão de empregos com carteira assinada no país, apenas em junho foram gerados 215 mil postos de trabalho. Além disso, as reservas cambiais do Brasil já passam de US$ 350 bilhões; o Banco Central tem margem de manobra para mudar a política monetária e cortar a taxa básica de juros, estimulando a economia; e o nível de endividamento das famílias brasileiras é baixo, se comparado com o índice americano. Portanto, se levarmos em consideração apenas os números apresentados, perceberemos que essa crise também não passará de uma marolinha para o nosso país.

"Nunca antes na história desse país" as coisas estiveram tão bem, não é verdade? É o que parece, ou melhor, é o que é para parecer. A mesma publicação não dá notícia alguma dos mais de 60 dias de greve dos servidores técnico-administrativos das Universidades Federais, ou sobre os mais de 170 campus/campi de Institutos Federais, CEFETs e Agrotécnicas, em 21 estados brasileiros, que também estão em greve. É preocupante que o PT faça a política que tanto criticou, a de se concentrar em números, em quantidade, em vez de qualidade.

A greve dos servidores técnico-administrativos e docentes da educação federal não é apenas por aumento de salário, salário que o Guido Mantega já havia dito no ano passado que está muito bom - e não está. A greve é pelo investimento na educação e pela não precarização do ensino. O governo Dilma diminuiu os investimentos em educação, proporcionalmente ao PIB. Dilma anunciou nesta semana, a criação de mais 120 Institutos Federais e nem acena com a possibilidade de negociar com os servidores em greve. A política de massa ganha força. Obras e mais obras para fazer volume e mostrar aos brasileiros o quanto o governo está trabalhando. Já vimos isso antes e os resultados não são nada animadores. Certamente esses 120 IFs nascerão sucateados, como já temos observado nos campus/campi recém-inaugurados. Nascem sem laboratório, sem biblioteca, sem estrutura nenhuma para abrigar qualquer demanda de ensino que seja.

Não interessa ao PT e nem à presidente Dilma a educação. Interessam os lucros cada vez mais exorbitantes dos grandes capitalistas e a mão-de-obra cada vez mais alienada - Karl Marx manda lembranças. Qual é o interesse em educar os trabalhadores para que eles se tornem cidadãos conscientes e questionadores? Nenhum. Há interesse sim em formar os eternos "apertadores de parafuso", agora promovidos a "profissionais multiuso", que desempenhem diversas funções e que não exerçam a criticidade. O governo investe pesado para a aprovação do PRONATEC, que, em suma, significa injetar dinheiro no sistema S, para que ele forme os profissionais acima mencionados. Investir na rede privada de ensino e sucatear a rede federal é o que o atual governo pretende e tem praticado. E justo esse grupo que tanto apedrejou a política de educação do governo FHC e o seu então Ministro da Educação, Paulo Renato, aplica os mesmos conceitos para conduzir a educação no país, na atualidade.

Quando é que o Brasil vai acordar para tudo isso? Historicamente a educação no Brasil caminha para a falência e nós não podemos ficar sentados esperando que isso aconteceça. O momento é de união entre docentes, técnicos-administrativos, estudantes e comunidade para pressionar o governo por uma educação, de fato, pública, gratuita e de qualidade. É hora de botar o bloco na rua: o bloco pela Educação Brasileira.

sábado, 19 de março de 2011

Pop Music Festival, o fiasco

Olá, amigos,

Agora refeito da decepção por não ter acontecido o Pop Music Festival, em Brasília, que contaria com shows de Chimarruts, Ziggy Marley, Train, Shakira e Fatboy Slim, posso narrar o que aconteceu naquele dia. 

Chegamos a Brasília, eu e minha irmã, por volta de 18h e fomos direto para o Mané Garrincha. O evento estava extremamente mal sinalizado.Vimos grande estrutura sendo montada e fomos em direção a ela. Ao chegarmos lá, nos informaram que o Pop aconteceria um pouco mais abaixo e, posteriormente, ficamos sabendo que aquela megaestrutura estava sendo montada para o show de Jorge e Matheus, uma dupla sertaneja. Fomos então no sentido indicado. Começou a chover. Achamos a entrada do evento e descobrimos porque não a tínhamos visto antes: a área onde ocorreria o festival ficava atrás de um circo que estava montado bem próximo ao Eixo Monumental.

Sem problemas. Até então, estávamos na expectativa de viver uma experiência inesquecível - o que, de fato, aconteceu. Fomos informados pelos seguranças que não poderíamos entrar com guarda-chuva. Então, deixamos os guarda-chuvas do lado de fora e entramos. A chuva deu uma pausa. Eram 19h. Conseguimos um local relativamente próximo ao palco, grudado na grade, para fazer jus ao ingresso de R$ 250,00 (meia entrada).Começa a apresentação da banda Chimarruts e a chuva começa a cair de novo. 

Passei a observar a estrutura do palco e fiquei impressionado. A cobertura do palco acabava  NO MESMO alinhamento do limite do palco. As laterais do palco eram fechadas com um TECIDO preto e somente até uma determinada altura. Havia uma abertura entre a lateral de tecido e o teto. Fica evidente que QUALQUER chuva que acontecesse causaria graves transtornos para a apresentação dos artistas. Nunca vi algo tão amador. E ainda tínhamos a impressão de que não haviam terminado de montar a estrutura. Pela foto abaixo, vemos que não foi só a impressão de que o palco não foi montado completamente.


Veio, então, uma tempestade. A banda parou de tocar por volta de 19h30min. Sim, assistimos a meia hora de show. Foi aí que começamos a notar mais uma falha na montagem do palco. O terreno era inclinado e o palco, ao invés de ser montado na parte alta, foi montado na parte baixa. Como a chuva estava muito forte a enxurrada começou a descer e a água começou a subir se acumular na área em que estávamos e na qual estava montado o palco e o som. Desligaram, então, a energia da área do palco para que não morresse ninguém eletrocutado. Obviamente, o palco ficou encharcado.

Ficamos na chuva, pois não havia lugar para todos se abrigarem, esperando por alguém que viesse dizer, pelo menos, "estamos tentando resolver". Mas isso não aconteceu. Depois de passadas MAIS DE DUAS HORAS, vem uma pessoa que acredito que fosse uma das responsáveis pela desorganização do evento, com um megafone na mão e comunica histericamente a decisão de cancelamento do festival. Detalhe para o fato de que só quem estava muito perto dessa pessoa ouviu o comunicado. Só tivemos certeza do que ela havia falado porque suplicamos a um segurança, que estava mais próximo a ela, que nos informasse.

Se os organizadores do evento fossem competentes e o evento tivesse sido bem organizado, com uma estrutura bem montada, certamente a chuva não teria causado os transtornos que causou. E o festival teria continuado depois da chuva, certamente.

Espero a devolução do dinheiro antes do Rock in Rio, para que eu possa ver ao tão esperado show da Shakira lá. Fica o alerta: não dá para confiar em eventos organizados pela Mondo Entretenimento e pela Maior Entretenimento. 

Fomos à Brasília para ver a um show inesquecível e vimos. Um show de desorganização, amadorismo, incompetência e desrespeito. A chuva, nesse caso, foi mera coadjuvante.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Intolerante e Incoerente Adulto

Chega um ponto da vida em que começamos a ter uma maior capacidade de análise do mundo e dos fenômenos que nos aparecem. Alguns dizem que isso acontece porque ficamos adultos, porque amadurecemos, porque evoluímos, porque transcendemos. O fato é que com o passar do tempo é natural que nos tornemos mais críticos e é aí que corremos o grande risco de nos tornarmos intolerantes.

Uma criança, por exemplo, não carrega em si a intransigência, o preconceito e a intolerância que percebemos em grande parte dos ditos adultos de hoje. Isso vem com o tempo, com as influências e, pasmem, com a "maturidade". O maior problema é que esses adultos serão os formadores das novas crianças e assim temos o efeito da bola de neve que tem levado o ser humano à condição deplorável que tanto temos discutido.

Temos sim o direito de criticar os coloridos, o fenômeno Restart, por exemplo. Mas o direito de criticar não é o direito de achincalhar, nem de tentar "enfiar na cabeça" dos adolescentes e/ou pré-adolescentes a "boa" música. Isso é arrogância! Muitos adultos que tentam fazer isso, curtiram Polegar, Dominó e afins, há alguns anos. E vamos combinar que não há muita diferença. 

A violência praticada contra os emos é um outro exemplo do combate ao "anormal". Sim, porque, na verdade, toda essa intolerância é baseada no fato de que esses grupos fogem da normalidade. E se não são normais, devem ser "corrigidos" para que a ordem seja mantida. É a mesma justificativa usada para crimes homofóbicos ou racistas. 

Por que o diferente incomoda tanto? Do que os "normais" têm medo? De quem é o direito de ditar a normalidade?

Vocês não acham extremamente incoerente que os "normais" reúnam suas famílias e sejam audiência para o BBB, por exemplo? Porque, convenhamos, o reality show está mais para o making of de um filme pornô. Ah, mas filme pornô é normal, né? Anormal e agressivo é ver dois homens de mãos dadas na rua!

Aliás, acho "engraçado" quando ouço de amigos que dizem repugnar a homofobia: "Não tenho nada contra homossexuais, mas não sou obrigado a ver dois homens se beijando. Como vou levar meus filhos/sobrinhos no shopping para que eles presenciem uma cena como essa?" Ora, se se encara a homossexualidade como algo natural, como apregoam, não deveria  haver problema em falar sobre ela.

Quando falamos de religião então, as proporções são ainda maiores. Experimente não seguir o padrão da sociedade e se declarar espírita ou umbandista, por exemplo. Macumbeiro(a)!

Ao criticar esses preconceito, intolerância, intransigência, incoerência, hipocrisia e outros tantos adjetivos depreciativos do ser humano em idade adulta, alguns podem dizer que eu estou sendo incoerente, pois todos sabem que o "politicamente correto" me irrita, ou melhor, a ditadura do "politicamente correto". Talvez até mesmo porque essa seja uma tentativa de imposição de uma nova normalidade. E normalidade não deve ser algo imposto ou ditado.

É muito cômodo passarmos pela vida sem nada acrescentar, somente repetindo aquilo que já existe. Chegou a hora de repensarmos discursos e atitudes e colocá-los em prática naturalmente. Evoluir não é fácil, mas ninguém disse que seria. Quem aceita o desafio?