quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Dona Chica e as 3 Conchas

Hoje acordei cantarolando Patrícia Marx: "Certo ou errado? Certo ou errado? Quem não pula o muro não aprende a se arriscar. Não tá com nada u ô ô u, não tá com nada". Parei. Logo me veio o pensamento sobre como essa música é inadequada para os dias atuais. 
Nos meus tempos de infância - ah! longínquos tempos - a gente cantava feliz "atirei o pau no gato" e brincava de roda se assustando com o "berrô que o gato deu". Aí veio alguém e disse que isso era muito errado. Soube que alteraram a música para "não atire o pau no gato, porque isso não se faz". Temo que o boi da cara preta tenha sido proibido de assustar e que a cuca não pegue mais nenhum neném. Arrancaram até mesmo o cachimbo do saci! 
Durante todas essas divagações me veio, ainda, a recordação de um filme que também vi quando era criança - e várias vezes depois disso -, 'O Demolidor', com Silvester Stalone e Wesley Snipes. O filme se passava num futuro pós-criogenia, as rádios tocavam somente jingles e as pessoas eram meio que... limítrofes, tinham sua liberdade cerceada de todas as maneiras e eram felicíssimas com essa situação.
Lembro que sempre ria muito e achava ser um futuro inalcançável. Hoje, vejo que ele está cada vez mais próximo. A onda do politicamente correto extremo ataca do cancioneiro popular a aberturas de novelas. E o mundo vai ficando cada vez mais chato, cada vez mais radical e com uma quantidade de fiscais absurda.
Quer saber? Acho que o melhor que temos a fazer é aprender logo para que servem as três conchas.


terça-feira, 18 de agosto de 2015

A História de Um Dia Sem Fim

Sabe quando você passa o dia todo certo de que está doente? Umas sensações estranhas, inexplicáveis, diferentes. Um dia daqueles que você quer que termine e apenas termine, sem grandes desfechos. Pois é, hoje foi desses dias. Não é raro, no entanto, que não sejamos agraciados com a realização de nossos desejos. E o que parecia só um dia ruim, passou a ser um dos mais atípicos por que já passei.

Ainda no começo da noite sou surpreendido por uma voz que vem da rua gritando por socorro. Olho pela janela do apartamento, é uma mulher desesperada pois acaba de ser assaltada. Dá tempo de ver os ladrões correndo e passando pela porta do meu prédio. É assustador quando você se dá conta de que está totalmente desprotegido e sujeito a tantas coisas nas quais muitas vezes nem pensa. Mas elas são reais, esses riscos são palpáveis e quando você está sensibilizado - por isso falei do meu sentimento ao longo do dia - o medo se potencializa. A mulher é amparada pelos vizinhos da casa em frente, mas eu tremo e assim fico por vários minutos. Nervoso, meu coração palpita, pelo simples fato de que ainda não entendo a violência como algo normal. Demoro algum tempo para me restabelecer.   

Resolvo me distrair, parar de pensar. Ligo a TV. Vejo novelas, um pedaço do programa da Xuxa, jogo no Facebook. Consigo me descontrair um pouco e relaxar. Entretanto, dormir não está fácil, tampouco ficar totalmente acordado. Solução: Youtube. Sempre recorro aos clipes de músicas que gosto para aliviar um pouco a barra quando me sinto incomodado.

São 2h40min da madrugada. Eu com os fones de ouvido. Ouço um barulho. Tiro os fones. Barulho na porta da sala. Parece alguém querendo entrar, forçando a fechadura. A campainha toca. Outra vez. Mais um toque. Tomo coragem e resolvo checar o que acontece, de perto. Do lado de dentro pergunto quem é. O homem, de voz rouca e baixa, responde que é um amigo que entrou por engano e não consegue sair. Acho estranho. Ele pede que eu abra a porta para ajudá-lo. Nego. Ele insiste que não é louco e repete que não consegue sair. Oriento que ele deve chamar o elevador e descer. Ele parece nervoso, confuso e continua a pedir que eu abra a porta. Volto a afirmar, agora de forma mais ríspida, que não posso atendê-lo a essa hora da noite e torno a lhe dar a mesma orientação. Ele chama o elevador e parece descer. Permaneço na sala, próximo à porta, para conferir se não há mais barulho no corredor. Silêncio fúnebre.

O silêncio agora parece ecoar. Junto com ele os questionamentos germinam e não me deixam dormir. Será que fui rude? E se realmente era alguém precisando de ajuda? Devia eu ter aberto a porta? Até que ponto o medo da violência vai me assombrar a ponto de primeiro desconfiar de qualquer um, de qualquer história? 

Agora, pressuponho, não conseguirei dormir. Sabem, sou daqueles que não dormem quando pensam. E nesse momento, dentro da minha mente, imperam o fúnebre silêncio do corredor e o caos das histéricas perguntas sem resposta.