terça-feira, 18 de agosto de 2015

A História de Um Dia Sem Fim

Sabe quando você passa o dia todo certo de que está doente? Umas sensações estranhas, inexplicáveis, diferentes. Um dia daqueles que você quer que termine e apenas termine, sem grandes desfechos. Pois é, hoje foi desses dias. Não é raro, no entanto, que não sejamos agraciados com a realização de nossos desejos. E o que parecia só um dia ruim, passou a ser um dos mais atípicos por que já passei.

Ainda no começo da noite sou surpreendido por uma voz que vem da rua gritando por socorro. Olho pela janela do apartamento, é uma mulher desesperada pois acaba de ser assaltada. Dá tempo de ver os ladrões correndo e passando pela porta do meu prédio. É assustador quando você se dá conta de que está totalmente desprotegido e sujeito a tantas coisas nas quais muitas vezes nem pensa. Mas elas são reais, esses riscos são palpáveis e quando você está sensibilizado - por isso falei do meu sentimento ao longo do dia - o medo se potencializa. A mulher é amparada pelos vizinhos da casa em frente, mas eu tremo e assim fico por vários minutos. Nervoso, meu coração palpita, pelo simples fato de que ainda não entendo a violência como algo normal. Demoro algum tempo para me restabelecer.   

Resolvo me distrair, parar de pensar. Ligo a TV. Vejo novelas, um pedaço do programa da Xuxa, jogo no Facebook. Consigo me descontrair um pouco e relaxar. Entretanto, dormir não está fácil, tampouco ficar totalmente acordado. Solução: Youtube. Sempre recorro aos clipes de músicas que gosto para aliviar um pouco a barra quando me sinto incomodado.

São 2h40min da madrugada. Eu com os fones de ouvido. Ouço um barulho. Tiro os fones. Barulho na porta da sala. Parece alguém querendo entrar, forçando a fechadura. A campainha toca. Outra vez. Mais um toque. Tomo coragem e resolvo checar o que acontece, de perto. Do lado de dentro pergunto quem é. O homem, de voz rouca e baixa, responde que é um amigo que entrou por engano e não consegue sair. Acho estranho. Ele pede que eu abra a porta para ajudá-lo. Nego. Ele insiste que não é louco e repete que não consegue sair. Oriento que ele deve chamar o elevador e descer. Ele parece nervoso, confuso e continua a pedir que eu abra a porta. Volto a afirmar, agora de forma mais ríspida, que não posso atendê-lo a essa hora da noite e torno a lhe dar a mesma orientação. Ele chama o elevador e parece descer. Permaneço na sala, próximo à porta, para conferir se não há mais barulho no corredor. Silêncio fúnebre.

O silêncio agora parece ecoar. Junto com ele os questionamentos germinam e não me deixam dormir. Será que fui rude? E se realmente era alguém precisando de ajuda? Devia eu ter aberto a porta? Até que ponto o medo da violência vai me assombrar a ponto de primeiro desconfiar de qualquer um, de qualquer história? 

Agora, pressuponho, não conseguirei dormir. Sabem, sou daqueles que não dormem quando pensam. E nesse momento, dentro da minha mente, imperam o fúnebre silêncio do corredor e o caos das histéricas perguntas sem resposta.