terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O Intolerante e Incoerente Adulto

Chega um ponto da vida em que começamos a ter uma maior capacidade de análise do mundo e dos fenômenos que nos aparecem. Alguns dizem que isso acontece porque ficamos adultos, porque amadurecemos, porque evoluímos, porque transcendemos. O fato é que com o passar do tempo é natural que nos tornemos mais críticos e é aí que corremos o grande risco de nos tornarmos intolerantes.

Uma criança, por exemplo, não carrega em si a intransigência, o preconceito e a intolerância que percebemos em grande parte dos ditos adultos de hoje. Isso vem com o tempo, com as influências e, pasmem, com a "maturidade". O maior problema é que esses adultos serão os formadores das novas crianças e assim temos o efeito da bola de neve que tem levado o ser humano à condição deplorável que tanto temos discutido.

Temos sim o direito de criticar os coloridos, o fenômeno Restart, por exemplo. Mas o direito de criticar não é o direito de achincalhar, nem de tentar "enfiar na cabeça" dos adolescentes e/ou pré-adolescentes a "boa" música. Isso é arrogância! Muitos adultos que tentam fazer isso, curtiram Polegar, Dominó e afins, há alguns anos. E vamos combinar que não há muita diferença. 

A violência praticada contra os emos é um outro exemplo do combate ao "anormal". Sim, porque, na verdade, toda essa intolerância é baseada no fato de que esses grupos fogem da normalidade. E se não são normais, devem ser "corrigidos" para que a ordem seja mantida. É a mesma justificativa usada para crimes homofóbicos ou racistas. 

Por que o diferente incomoda tanto? Do que os "normais" têm medo? De quem é o direito de ditar a normalidade?

Vocês não acham extremamente incoerente que os "normais" reúnam suas famílias e sejam audiência para o BBB, por exemplo? Porque, convenhamos, o reality show está mais para o making of de um filme pornô. Ah, mas filme pornô é normal, né? Anormal e agressivo é ver dois homens de mãos dadas na rua!

Aliás, acho "engraçado" quando ouço de amigos que dizem repugnar a homofobia: "Não tenho nada contra homossexuais, mas não sou obrigado a ver dois homens se beijando. Como vou levar meus filhos/sobrinhos no shopping para que eles presenciem uma cena como essa?" Ora, se se encara a homossexualidade como algo natural, como apregoam, não deveria  haver problema em falar sobre ela.

Quando falamos de religião então, as proporções são ainda maiores. Experimente não seguir o padrão da sociedade e se declarar espírita ou umbandista, por exemplo. Macumbeiro(a)!

Ao criticar esses preconceito, intolerância, intransigência, incoerência, hipocrisia e outros tantos adjetivos depreciativos do ser humano em idade adulta, alguns podem dizer que eu estou sendo incoerente, pois todos sabem que o "politicamente correto" me irrita, ou melhor, a ditadura do "politicamente correto". Talvez até mesmo porque essa seja uma tentativa de imposição de uma nova normalidade. E normalidade não deve ser algo imposto ou ditado.

É muito cômodo passarmos pela vida sem nada acrescentar, somente repetindo aquilo que já existe. Chegou a hora de repensarmos discursos e atitudes e colocá-los em prática naturalmente. Evoluir não é fácil, mas ninguém disse que seria. Quem aceita o desafio?